Quem não conhece, pensa que o criador do Sitio Picapau Amarelo e seus ricos personagens infantis, só poderia ser um exemplo de candura angelical. Enganam-se sobre ele, Monteiro Lobato, um dos mais polêmicos e ativos personagens da vida nacional, não só na literatura, cuja obra vai além de criações infantis, mas também na vida política e social do país.

Mas aqui presto-me a falar sobre um personagem criado por Monteiro Lobato, para trazer à memória atual e, aguçar aos jovens que ainda não o conhecem, a conhecê-lo. O Jeca Tatu.

Esse personagem criado por Monteiro Lobato, inspirou muitos quadrinhos, propagandas e até o cinema, que o imortalizou nos filmes de Mazzaropi. Foram muitas as cenas nos anos de minha infância, e não só a mim, mas muitos o tinham com o uma figura exemplo de bem. Chocou-me quando estudei a origem dessa criação do autor, contida no conto “URUPÊS”, onde ele escreve: “… entre o estrangeiro recente e o aborígene de tabuinha no beiço, uma (raça) existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução… Pobre Jeca Tatu! Como é bonito no romance e feio na realidade”.

Eis um de meus ídolos de infância caído do pedestal: o Jeca Tatu. No original do seu criador, era um caboclo submetido a uma crítica que exaltava a sua preguiça, comparando-o a um “urupê de pau podre a madorrar no silêncio das grotas”. Interpretando: um cogumelo, imponente dentre os tantos da espécie, porém, dormente e sugando os nutrientes de um tronco podre, além de frágil ao ponto de se desmanchar ao toque das mãos.

Monteiro Lobato dava outro perfil ao exaltado caboclo de textos históricos e poéticos, além de tecer críticas contundentes ao estado de abandono imposto pela política governamental, no qual os pequenos agricultores estavam inseridos. Confesso que eu sentia certa pena do Jeca, e eu era incomodado, pois apesar de sua indolência, eu o envolvia por ares heroicos, até que só muito depois veio a decepção.

Monteiro Lobato foi, por duas vezes, recusado para a Academia Brasileira de Letras e, em uma terceira vez, foi ele quem recusou o convite. Pela Academia Paulista de Letras, foi eleito quase que à sua revelia. Vale a pena conhecer a vida e a vastíssima obra de Monteiro Lobato.

E fica a citação para um passeio ao município de Taubaté, que abriga um museu no Sítio do Pica-Pau Amarelo, no próprio sítio que foi da família de Monteiro Lobato, um atrativo sem preço para que, não só os jovens estudantes incursionem e guardem a memória do autor, mas também por adultos e professores que, em algum momento foram tocados pelas letras desse inesquecível personagem.

Ton Jófer é escritor São-carlense, nascido em 1956, cuja carreira literária cedeu parde de sua existência à sobrevivência do autor como geólogo, atuante na área técnica de geologia de engenharia.
Misturando às letras, a espiritualidade, no ano de 2017, o autor debutou no mundo literário com o livro de poemas “Ecos da Alma”, em 2020 lançou seu primeiro romance “Cadafalso” e em 2021 o romance espiritualista “Íncubus – Sombras da Solidão”.
Os poemas e pensamentos do autor podem ser acessados em seu perfil no Facebook ou no Instagram.
Ton Jofer

Colunista - Literatura

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