Gostaria de começar refletindo sobre a palavra método, que significa: “caminho”. Cada ciência particular possui métodos próprios para obtenção do conhecimento. A ciência busca fenômenos a partir do método da observação de uma experiência, empiricamente, mas, tenta-se neutralizar ou, invalidar, experiências subjetivas, como se o ser humano não fosse um ser estruturalmente subjetivo, o qual experimenta ou experiencia sensações e fenômenos subjetivos.

A ciência fragmenta um objeto ou fenômeno, tentando conhecer a menor partícula ou ação que o compõe. Já na filosofia, os objetos que se estuda estão para além do ambiente físico ou da matéria (metafísica). E é lá, nesse ambiente, que moram as dúvidas, as curiosidades, as motivações. É lá o campo fértil de onde vêm as ciências. Pois o mundo sempre foi e continuará sendo mundo, tendo nós conhecimento dele ou não. As ciências são apenas nossos pequenos passos em direção ao conhecimento do mundo externo, ao domínio da natureza. Mas, para cada passo desse, é preciso um impulso advindo da área mais temida, da metafísica humana.

Metafísica é considerada a filosofia primeira porque trata de investigar a origem de todas as coisas e de relacioná-las com a realidade em que vivemos – a própria definição dela já explica o porquê de ela gerar, como mãe, as ciências. Epistemologia ou teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia que busca investigar quais são as melhores formas de se produzir conhecimento bem como quais seriam os limites da capacidade humana em produzir conhecimento. E eis que somos barrados pelos métodos quando o conhecimento que precisamos criar ou estruturar é relacionado a subjetividade humana: não dá para colocar a verdade ou a ética em um tubo de ensaio.

A Metafísica possui uma subárea: a “Ontologia”, que se preocupa em estudar o que é o ser. Na Ontologia, o objetivo é entender como os seres existentes na natureza se relacionam e quais são os elementos básicos existentes no universo que identificam um ser tal como ele é. O ser humano possui em si a subjetividade em seu modo de viver, pensar e se relacionar, não dá para simplesmente desconsiderar isso por não se encaixar nos métodos específicos das ciências particulares, no estatuto de cientificidade da matemática ou da física.

Nas ciências, para uma teoria ter efeito, ela deve ser universal. Mas vejamos, para desespero de muitos, a ideia de Deus, o “saber Deus”, por exemplo, é algo que também poderia ser universalizado, generalizado por reincidências, tanto em contingência como no tempo histórico, porém, não é palpável materialmente,  não é um objeto que dê para fragmentar. A imagem que fizemos da ciência e do cientista ao longo da história fez com que muitas pessoas se acomodassem, perdendo de algum modo a capacidade de questionamento: se é cientificamente comprovado, ok.

Em contrapartida, hoje, estamos assistindo um consciente coletivo tendendo a uma unificação quando se fala em fé, por exemplo. É um fenômeno em andamento, está acontecendo. Muitos, estão buscando essa estrutura de religação com algo maior, que transcende a matéria e que sacia a sede do seu lado subjetivo que grita por ter sido deixado de lado. A ciência também já sabe o quanto esse lado subjetivo afeta a saúde e a recuperação de indivíduos, por exemplo.

Pois bem, se tirarmos das religiões a roupa do dogma, a essência de todas as religiões é o contato com uma espiritualidade, com uma espécie de emoção primordial com o mundo, com a natureza. No início da história as árvores eram sagradas, as águas eram respeitadas, esta pedra tinha significado, ou seja, existia uma relação de maravilhamento com o desconhecido, e essa sensação é que deu origem à religião. Se você tirar o ritual, o dogma cristão, judaico, muçulmano, hindu, budista, kardecista, Umbandista, etc., etc., etc., essencialmente, todas as religiões falam dessa relação do ser humano com essa espiritualidade, dessa ressonância com o mundo, dessa sensação de algo maior, um algo subjetivo, individual, que todos nós temos. É a procura de nós mesmos diante de um mundo que é muito maior do que a gente.

A ciência também. O homem faz ciência para poder se aproximar da natureza, do mundo. O espírito de busca, de relação com o mistério, com o desconhecido é essencialmente a mesma, tão carregada de espiritualidade quanto essa religião sem roupa, essa espiritualidade nua, essa relação com o mistério, com o desconhecido.

Assim, se a gente esquecer dos dogmas da religião e da linguagem científica, que é o que vem depois, e entender a subjetividade da procura das pessoas com relação a esses grandes mistérios, religião e ciência têm muito em comum. A relação entre ciência e religião está exatamente nesse momento, nessa irracionalidade, nesse maravilhamento que existe para com o mundo, com o mistério.

Alguns filósofos vêm procurando e escolhendo entre evidências para a crença em Deus, rejeitando o evidencialismo como via única de justificação, abolindo a teoria JTB. Mas, a questão é que está sendo percebido, ou voltando a ser percebido, que não dá para usar terra no lugar da água do café, não dá para usar pasta de dente para lavar o cabelo, não dá para usar critérios de ciências objetivas para as subjetivas. Não é possível fazer ciência sem pressupostos metafísicos ou crenças religiosas, e mais, é urgente a criação de critérios específicos, teorias e abordagens como as do filósofo analítico americano, Alvin Plantinga, especialista em lógica, justificação e epistemologia, que buscam o desenvolvimento de uma linguagem específica para a tal “estrutura noética”, para aquilo que está dentro de nós e que não cabe nos moldes e testes do setor farmacêutico, dos cálculos da previsão do tempo, ou dos produtos derivados do Petróleo.

 

 

Nascida em 10 de Janeiro de 1987, jornalista, escritora, empresária, pesquisadora na área de educação e filósofa… Espera, calma! Para um portal como esse, uma biografia ilesa, encaixada e padronizada não combina. Melhores serão informações um pouco mais simples, porém maiores. Vamos de novo:

Sou nascida na Lua Crescente. Capricorniana nata, terra em busca constante por água para fertilizar meu interior. Mulher de um amor maternal a sentir de longe. Descontrolada por vitaminas de abacate e ambrosia. Tenho medo de escuro até hoje. Sou comparada a um tsunami temperamental com genialidade para problemas e muita criatividade sentimental. Acredito em sereias, em bruxas e em pessoas – pois é, até em pessoas. Mudo de humor de acordo com a lua, me desconcentro facilmente, sou esquecida, brava, teimosa, amante do Outono e da Lua, e, agradecida por tudo.

Patrícia Volpe

Colunista - Filósofa, jornalista (Editora do Portal São Carlos EM CENA) e empresária

2 Comentários

  1. Samana

    Olá! Gostaria de conversar sobre esse artigo, mas de maneira privada, é possível? Tenho certeza que você terá interesse na conversa, é de encontro aos seus ideais.

    Responder
    • Patrícia Volpe

      Claro, o e-mail da colunista é o contato@patriciavolpe.com.br.
      Abraços e agradecemos por acompanhar o nosso portal =)

      Responder

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Destaques

REDES SOCIAIS E A GERAÇÃO DE UM NOVO ESPAÇO ANTROPOLÓGICO

REDES SOCIAIS E A GERAÇÃO DE UM NOVO ESPAÇO ANTROPOLÓGICO

Ainda existem pessoas que duvidam dos valores sociais estabelecidos e expressados pelas redes digitais, e talvez seja por essa desconfiança que alguns males decorram delas. Alguns indivíduos tornaram-se dependentes dessas plataformas, enquanto outros tentam evitá-las, afirmando que ‘não se deixam envolver’ ou que ‘não se encaixam nesse tipo de interação’. No entanto, hoje em dia, não há mais como se excluir completamente desse contexto.

ler mais