Diante dos recentes ataques a escolas, a sociedade assiste perplexa aos abomináveis atos de violência contra vulneráveis e o medo se instaura. Por que nossos jovens estão se mutilando, matando amigos, perdendo o encanto pelo viver, pelo conhecer e aprender? Por que houve um aumento nos suicídios de jovens no Brasil na última década?

Especialistas de áreas diversas buscam as causas dessa violência, mas o que se veem são apenas expressões de suas próprias tendências ideológicas, raramente alguns procuram a solução de maneira ‘apartidária’. Dizer, como fazem os políticos, que a culpa é do adversário político, é regar com ódio o que já está carregado por ódio, e assim ficamos correndo em rodinhas sem fins alimentadas por discursos que mais parecem shows por audiência.

Sim, é emergencial pensar em segurança física nas escolas como resposta imediata aos acontecimentos: ergam as muralhas e protejam as cidadelas! Fato lógico e operacional. Mas, a pergunta contundente é de onde vem esse adubo mau que está matando a boa semente na educação? O que está acontecendo nas famílias, as mesmas que geram educandos e educadores? Tudo leva a crer que a fronteira do abominável foi ultrapassada e já estamos pisando em terras do diabólico. Mas acredite, essa fronteira não foi ultrapassada agora, não é de agora, o hoje tem suas raízes lá atrás e é exatamente isso que dá lógica à premissa de que também não será possível resolver tal problemática com uma única solução imediata, paliativa. É necessário um olhar maior, que articule o passado com planejamentos a longo prazo.

Como erguer muralhas de proteção nas escolas contra o mal externo, se muitas vezes a violência está no próprio aluno? E como não erguê-la se muitas das vezes o atentado vem de fora?

Para essa complexa tarefa de construir muralhas protetoras, ao político resta o abandono do palanque como palco de opiniões e disputas por razão para que, unido ao seu opositor, possam unirem-se aos prantos das vítimas e às suas realidades concretas. Às autoridades competem a ação de proteger a cidadela dos vulneráveis que hoje tem por fundação o lodoso pântano de seres humanos sem coração. Eis a maior de todas as problemáticas gritando à todos nós com total liberdade de expressão: o eixo humano está desmoronando!

Como cobrar humanidade de uma sociedade que não foi formada na plenitude do ser, que não foram ensinados a serem humanos? Sim, caro leitor, aprendemos a ser humanos, assim como aprendemos a andar com duas pernas, a comer com talheres e atender aos papéis sociais em que estamos inseridos. Nas escolas, ensinam-se virtudes? Ou será que a moral como prática de bons habitus que levam o indivíduo à verdadeira felicidade, que ensina o valor mínimo da vida, foi deixada de lado por caprichos de um ‘humano moderno e descolado’?

Historicamente, os jovens de hoje são filhos de uma geração formada pelo ensino tecniscista e, contemporâneos de um tempo de mudanças de valores fundamentais marcado pelo nascimento do mundo digital, da era da nuvem. Parece que essa nuvem está causando sombras nos sentimentos humanos e como resultado dessa história, vemos adolescentes passando por problemas de má formação psicológica na construção de si mesmos como seres humanos.

Cognitivamente, precisamos do conhecimento somado as percepções subjetivas para conseguirmos estabelecer conceitos e, carregá-los com escalas valorativas que atendam as nossas realidades concretas. Educar é ajudar na construção do eu, e o eu é subjetivo. Educar é ajudar também na construção da cidadania, conceito atualmente delineado pela qualidade de vida em que todos vivam com dignidade, mas só o conhecimento técnico científico não é capaz de nos revelar todas as dimensões dos valores da dignidade humana, da cidadania, pois são elementos subjetivos.

Conhecimentos científicos sozinhos não podem expressar uma razão para nossas escolhas existenciais, truncando assim a formação integral do ser que age, sente e pensa, o que reflete hoje nesse aumento significativo e assustador de violências sem precedentes. Tal é a falta desse aporte em valores e de apoio psicológico que vemos hoje jovens desinteressados, irresponsáveis, deprimidos, revoltados, medicados, sem saberem seu lugar no mundo e muitas vezes nem querendo seu lugar.

Em uma época totalmente imediatista, é preciso demonstrar a urgência de nossos cuidados como poder público para tais componentes necessários na formação integral do ser diante daquilo que escapa às explicações correntes nas escolas e currículos, viabilizando assim, entre outras coisas, a contribuição da psicologia para a formação de estudantes emancipados e capazes de atribuir real significado à palavra “cidadania”. Nem ao menos é possível pensar em uma educação emocional, afetiva, sem o recurso da subjetividade para entender os sentidos das próprias emoções. É mais caro aos cofres públicos inserirem profissionais como psicólogos nas escolas ou encherem as escolas de guardas armados e detectores de metais?

A escola influencia a sociedade, e a sociedade também influencia a escola. Todos os problemas que enfrentamos em sociedade, a escola enfrenta em seu interior. Ensine a criança pelo amor, e ela viverá pelo amor. Ensine a conduta pelo ódio e ela propagará o desamor. Para as gerações futuras, essa é a primeira solução para erradicar o mal que se dissemina como uma praga sobre a plantação. Salvem o eixo humano a partir da educação, ou, salvem-se quem puder!