Claro que muitos dos mais jovens não conhecem a música de Caetano Veloso, “Que Mistérios Tem Clarice”, belíssima. Vale a pena conhecê-la e entender até onde a alma do poeta musical, que também é um sentidor, penetrou na alma da escritora Clarice Lispector, porque, certamente, há muito ainda a ser sentido nas letras da nossa BRUXA da literatura. Sim, ousamos coloca-la ao nível do “Bruxo do Cosme Velho” – Machado de Assis.

Introspectiva, Lispector, é clara Clarice das escuridões onde residem as luzes da alma, afinal, para visualizar os brilhos dos nossos interiores temos que, dentro deles, visitar nossos recantos escuros.  Pela sua obra em sóbria interioridade, leva seus leitores a esses recantos sombrios de onde ela emerge vestida de luz. Nós, patinadores das profundezas da alma feminina, na especial alma de Clarice, nos agarramos e ficamos lá no fundo, lamentando em ter que sair sem, contudo, achá-la em sua plenitude numa narrativa, por exemplo, de um vento batendo na face.

Talvez, do aprisionamento de seus leitores em um lado escuro da alma que pleiteia a luz, e de seu sotaque provocado por sua língua presa (nunca foi por ela ser ucraniana, pois ela veio para o Brasil com 2 anos), tenha vindo o adubo para uma literatura meio bruxa. Foi até convidada para palestrar na “Conferência Mundial das Bruxas”, em Bogotá, no ano de 1975. Esse fato lhe renderia falsos comentários de que fora vista em roupas ritualísticas para a prática de bruxaria e outras tantas miçangas querendo ser ouro, coisa de historiadores que desejam ser maiores que a própria história.

Ainda que ela não tenha entendido o convite, pois que o escritor, não é de si mesmo o melhor leitor, ela apresentou, na voz de outro palestrante, o seu conto “O Ovo da Galinha”, o qual sugiro aos que não leram, que leiam, e aos que leram, que releiam, que então, por fim, entenderão a “pecha de bruxa”, mas que eu chamo de plenitude, pois o era – uma alma feminina expressa por letras. Entender a alma feminina que é plena, nem a dela nem essa que temos ao nosso lado nós conseguiremos, por isso, compreendê-las sempre será um árduo labor que nos trará como recompensa, o amor.

Clarice Lispector (1920 – 1977), apesar de ucraniana, se intitulava brasileira e pernambucana. Nunca quis ser da Academia Brasileira de Letras, que, ironicamente, dizia que lá pairava um mau agouro. O encantamento da bruxa da nossa literatura rendeu-lhe um comentário de Otto Lara Resende: “não se trata de literatura, mas de bruxaria”. Vale muito a pena mergulhar em Clarice Lispector, na vida, na obra e nas mensagens que elas nos traz para elucidar, tanto os seus mistério, como os das nossas próprias almas nos pequenos atos humanos do cotidiano.

Ton Jófer é escritor São-carlense, nascido em 1956, cuja carreira literária cedeu parde de sua existência à sobrevivência do autor como geólogo, atuante na área técnica de geologia de engenharia.
Misturando às letras, a espiritualidade, no ano de 2017, o autor debutou no mundo literário com o livro de poemas “Ecos da Alma”, em 2020 lançou seu primeiro romance “Cadafalso” e em 2021 o romance espiritualista “Íncubus – Sombras da Solidão”.
Os poemas e pensamentos do autor podem ser acessados em seu perfil no Facebook ou no Instagram.
Ton Jofer

Colunista - Literatura

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